Como lidar com crianças neurodiversas no ambiente familiar
Ponte e Araújo (2022) apontam que as famílias passam frequentemente pela fase de adaptação à nova realidade, ao descobrir a neurodivergência na família. Durante essa fase as famílias buscam assimilar a experiência da descoberta da neurodiversidade na criança e, após a fase de impacto inicial, passam a buscar equilíbrio emocional que permita a criação e desenvolvimento da criança.
A fase de adaptação é vivida à medida que a família procura continuar caminhando, apesar do choque inicial. Procuram reagir, enfrentar o desespero de perceber que algo fora do controle está acontecendo e fazendo com que seu filho não tenha o desenvolvimento esperado. Sentimentos como medo, confusão, culpa, vergonha e raiva são comuns nessa fase e, dizer que se sobreviveu a esta facticidade é reconhecer a possibilidade de continuar vivendo a partir de um novo propósito, confiantes de poder encontrar meios de superar o que ainda está por vir.
Com o passar do tempo, ainda que as demandas sejam significativas, a sobrecarga vivenciada é minimizada, bem como o processo da fase de adaptação propicia a busca e renovação de estratégias de enfrentamento das dificuldades. Costa (2012) afirma que cada família é diferente da outra e pode levar mais ou menos tempo para se adaptar. O complemento dessa fase depende muitas vezes, da gravidade e do significado que cada família atribui à neurodivergência, do seu nível sociocultural, do caráter, da personalidade, capacidade adaptativa de cada um e ainda das experiências pessoais.
Costa (2012) diz que, para a adaptação da família, é de extrema importância a compreensão de quais são as necessidades que a criança neurodiversa apresenta e os apoios com que a família pode contar. A autora diz que, em caso de deficiência, sendo esta física ou mental é necessário o diálogo de diversos setores, como: saúde, educação, segurança social e trabalho. Dessa maneira, a família poderá estar em contato com muitos profissionais para auxiliá-la.
Para Serra (2010), com o auxílio do psicólogo e dos demais profissionais da rede de saúde, os prognósticos quanto ao futuro da criança podem ficar menos obscuros, e a ideia de que essa criança nada é capaz de realizar pode ser substituída por esperanças conscientes e investimentos no desenvolvimento da criança.
Costa (2012) diz que existem necessidades práticas e psicológicas da criança e da família. Para ela, as necessidades práticas dizem respeito ao tempo e energia que a família despende no cuidado da criança, pois acarreta um esforço adicional para toda a família. O tempo e a energia gastos não são iguais para todos os membros, pois depende da função familiar que cabe a cada um. As necessidades práticas também abarcam informações necessárias à orientação da família, como:
Serviços sociais, instituições educativas e recreativas, terapeutas especializados, ajudas econômicas; informações acerca da forma como os pais podem favorecer o desenvolvimento do seu filho; informações sobre formas de organizar o tempo e os recursos econômicos, desenvolver técnicas de comunicação pessoal para obter ajuda. (COSTA, 2012, p. 51).
Além disso, há também a necessidade dos pais obterem conhecimento dos serviços fornecidos pela comunidade oferece para ajudar a responder às exigências do seu filho ao nível de educação, saúde, reabilitação e apoio social, os seus direitos e benefícios sociais.
Ao nível da educação, Serra (2010) destaca que a literatura sobre a educação especial e escolarização de crianças deficientes é enfática quando trata da constante participação das famílias nas conquistas de seus direitos.
Conclui-se então, a importância de reunirmos os fatores abaixo para melhor adaptação da família no manejo com a criança
- 1 - Rede de apoio;
- 2 - Inclusão educacional;
- 3 - Equipe multidisciplinar;
- 4 - Suporte emocional;
- 5 - Apoio socieconômico.
E por fim, destacamos o importante papel das famílias como agentes frente ao combate ao preconceito e estigmatização das pessoas neurodivergentes na sociedade. Ponte e Araújo (2022) dizem que em um mundo de comportamentos pragmáticos, de rendimento e de produção, o que sai do “padrão” não é valorizado, comprometendo a elaboração de um olhar mais amplo para as potencialidades dessas pessoas.
O portal NeuroKids acredita na possibilidade de viver a neurodivergência na família de maneira leve, buscando apoiar os familiares a seguir buscando as melhores estratégias para ajudar a criança a desenvolver suas potencialidades.
Bibliografia
COSTA, Sandra Cristina Pereira da. O impacto do diagnóstico de autismo nos Pais. 2012. Tese de Doutorado. Disponível em:
PONTE, Amélia Belisa Moutinho da; ARAUJO, Lucivaldo da Silva. Vivências de mães no cuidado de crianças com transtorno do espectro autista. Disponível em: https://submission-pepsic.scielo.br/index.php/nufen/article/download/22727/979. Acesso em 3 out. 2023.
SERRA, Dayse. Autismo, família e inclusão. Polêmica, v. 9, n. 1, p. 40 a 56, 2010. Disponível em: